Projeto inédito do setor cerâmico brasileiro para uso de biometano foi apresentado na COP 28
Projeto inédito para o uso do biometano pela indústria brasileira de revestimento cerâmico, com a meta de suprir 50% da demanda energética do polo do estado de São Paulo até 2030, foi apresentado, na COP 28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), no último domingo ,dia 03 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes. O case foi abordado no painel “Desfossilização a partir da economia circular: a contribuição do biogás para a transição energética no Sul Global”.
O setor cerâmico brasileiro sempre esteve à frente nas questões de sustentabilidade, sendo reconhecido como produtor de uma das cerâmicas mais verdes do mundo. O programa de substituição do gás natural pelo biometano, com o combustível para os fornos das indústrias brasileiras é mais uma etapa nesta trajetória, sendo objeto de acordo, em março de 2023, entre os setores cerâmico e sucroenergético. O ato ocorreu em Santa Gertrudes, no interior do Estado de São Paulo.
Inicialmente, o projeto-piloto entrará em operação em 2025, contemplando dez plantas consumidoras do polo fabril localizado no entorno desse município. Nacionalmente, poderá abastecer também as fábricas de Santa Catarina e do Nordeste, além de outros segmentos que poderão aderir à jornada de transição energética utilizando-se do mesmo modelo.
São signatárias do acordo as seguintes entidades: Anfacer; APLA (Arranjo Produtivo Local do Álcool), parceiro tecnológico no projeto; Aspacer e Sindiceram . Há, ainda, participação da empresa Geo bio gas&carbon e do Senai Nacional.
O projeto foi apresentado na COP28 por Benjamin Ferreira Neto, vice-presidente do Conselho de Administração da Anfacer e da Aspacer; Flávio Castellari, diretor-executivo do APLA; Isabela Bolonhesi, head de Meio Ambiente, Sustentabilidade e ESG da Geo biogas&carbon; e Eduardo de Miranda, diretor de Negócios e Empreendedorismo do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), com mediação de Luciana Furtado, analista de Gerência do Agronegócio da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
O programa evidencia o potencial do Brasil para a produção e uso de biogás. Segundo a Abiogás (Associação Brasileira de Biogás), o País deverá atingir a produção de 30 milhões de Nm³/dia (metro cúbico normal por dia) de biogás até 2030. Tal volume poderá atender parte da demanda brasileira atualmente suprida pelo diesel, em torno de150 milhões de Nm³/dia. Já estão estabelecidas seis plantas autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a operar, com capacidade de aproximadamente 450 mil Nm³/dia. Hoje, a capacidade de produção ainda é inferior a 2% do potencial.
Nova etapa na redução da pegada de carbono
A Anfacer já havia participado da COP26, em Glasgow, na Escócia, apresentando projeto setorial de preservação do meio ambiente.
“Estamos contentes em voltar à Conferência da ONU, agora com um projeto pioneiro ‘made in Brazil’. A transição da matriz energética promoverá a sustentabilidade e reduzirá ainda mais nossa pegada de carbono, ao tempo que processa o combustível do biogás a partir de resíduos orgânicos das usinas de açúcar e álcool. É o chamado pré-sal caipira, do Brasil para o mundo”, salienta Benjamin Ferreira Neto.
Ele abordou o uso paulatino do biometano nos fornos das indústrias cerâmicas, sempre engajadas na busca em ampliar o grau de sustentabilidade social e econômica, com respeito ao meio ambiente. “Importante lembrar que, em uma década, nosso setor, protagonista no mercado global e que produz uma das cerâmicas mais verdes do mundo, evitou a emissão de 4,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, com a adoção do gás natural. Agora, com o biometano, podemos ampliar esse avanço e contribuir para o debate global de descarbonização”, completa.
Flávio Castellari, diretor-executivo do APLA, exalta a decisão do governo brasileiro de reconhecer o pioneirismo do case na conferência do clima. Também reitera a união bem-sucedida dos setores para discutir a transição energética, planejar e mostrar ao mundo que existe no mercado para novas soluções.
“Nossa parceria foi muito importante porque criou um mercado superior a um milhão de metros cúbicos de biogás por dia, mostrando a confiança que a indústria cerâmica depositou na tecnologia e produção, com condições de atender em grande escala. É um projeto que pode ser decentralizado. Onde houver usina, conseguimos produzir o biogás e distribuí-lo. Estamos começando a trabalhar em outros polos de cerâmica, não apenas em Santa Gertrudes. Queremos mostrar ao mundo que projetos como o nosso são escalonáveis e replicáveis, já que existem mais de 100países que trabalham a cana-de-açúcar em grande escala”, afirma Castellari.
O programa demonstra na prática que é possível usar os resíduos da cana-de-açúcar, com tecnologia de ponta e aprovada, para produzir biogás em grande escala. A integração multidisciplinar dos players é exemplo de que, quando existe diálogo e planejamento, a transição energética é factível e encontra no Brasil um celeiro de oportunidades para novos negócios.
Na avaliação de Alessandro Gardemann, CEO da Geo bio gas&carbon, o projeto de biometano na indústria cerâmica é um marco na transição da indústria brasileira para uma economia de baixo carbono. “O setor sempre foi parceiro da transformação energética no nosso país. Essa iniciativa eleva sua competitividade, colocando-o em consonância com normas internacionais e abrindo portas para que outros segmentos industriais também adotem soluções que agreguem valor e descarbonizem sua produção”. Para Gardemann, além de encorajar a economia circular e reduzir o impacto de emissões de gases de efeito estufa, ouso de biometano pela indústria e a união dos hubs sucroenergético e de cerâmica reforçam o protagonismo do Brasil no uso de biocombustíveis.