Alternativas de descarbonização da indústria cerâmica brasileira - Iniciativa Anfacer + Sustentável
Preocupada com a alta dependência energética e na busca de estudar fontes de energia sustentável, de baixa emissão de gases de efeito estufa e menos onerosas, a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer) levou representantes da indústria de revestimentos cerâmicos nacional à Espanha e Dinamarca para conhecer soluções inovadoras, como o hidrogênio verde, assim aprimorando os conhecimentos para viabilizar o movimento de transição energética desta indústria no Brasil. A missão “Energias do Futuro” foi realizada entre 27 de junho e 1º de julho.
Para Amanda Neme, consultora de Sustentabilidade da Anfacer, “o hidrogênio verde de uso industrial é visto como uma das alternativas para atender as fábricas de cerâmica na Europa, logo o intuito era conhecer o processo e a viabilidade de uso. Especialistas demonstraram potencial de ser viabilizada economicamente em uma curva de 10 anos, resultando em um plano de transição energética de médio prazo”. Adicionalmente, Neme relata que a missão teve como objetivo central ouvir e aprender com os projetos já implantados na Europa.
Outra tendência fortemente discutida durante toda a missão baseia-se em como atualizar a matriz energética, que poderá ocorrer com o uso direto de biogás e biometano, este condizente com a realidade brasileira em curto e médio prazo. “Durante a missão pudemos ouvir os gargalos quanto a regulação e distribuição do biogás nos países visitados, bem como questões de custos e viabilidade econômica desta importante solução”, comentou Amanda Neme.
A viagem empresarial ocorreu por meio da iniciativa Anfacer + Sustentável, cujo propósito é contribuir para a transformação do setor de revestimento cerâmico brasileiro, e contou com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – ApexBrasil na promoção de visitas técnicas em Madri, Puertollano e Almeria, na Espanha, e Vamdrup, Sonderborg e Nordborg, na Dinamarca.
Participaram da missão representantes das empresas Eliane e Lepri, além de integrantes da Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (Aspacer), do Sindicato das Indústrias da Construção, do Mobiliário e Cerâmicas de Santa Gertrudes (Sincer), do Sindicato das Indústrias de Cerâmica de Santa Catariana (Sindiceram). O intercambio técnico-científico ainda promoveu encontro com autoridades dos governos locais e representantes de instituições de ensino das regiões visitadas.
Na Espanha, a missão visitou os polos de hidrogênio e as plantas de energia solar e as com uso de biomassa, alternativas com potencial de tornar o segmento mais competitivo frente às adversidades das crises geopolíticas, alta da inflação e disparada dos preços dos combustíveis.
Na Dinamarca, a equipe da missão foi recebida por Adriana Caznoch Kürten, representante da embaixada da Dinamarca durante às visitas. Os executivos tiveram a oportunidade de conhecer os projetos de sustentabilidade e de transição energética do País.
Hidrogênio dourado
As incursões técnicas revelaram, em Madri, projetos de “hidrogênio dourado”, molécula da cor dourada resultante de um processo de obtenção do hidrogênio por fontes de energia renováveis e adicionalmente a captura do carbono. Substituindo o gás natural, normalmente usado para produzir hidrogênio cinza, por biometano, na produção do hidrogênio. O projeto tem emissões negativas com a captura do carbono.
Especialistas apresentaram a viabilidade da captura quando em altas concentrações e a clausura do carbono em produtos como polímeros e carbonatos. Essa solução é recente no mercado e poderá ser considerada para aplicação a longo prazo, segundo análise da consultora Amanda Neme.
“Temos interesse em crescer em produção de metros quadrados de cerâmica projetando as reduções da emissão de carbono. O compromisso é colocar a sustentabilidade no coração da estratégia dos nossos negócios. Precisamos decidir como reduzir a ‘pegada de carbono’ para a perenidade do setor”, diz Neme.
No Brasil, o Decreto 11.075/22 estabeleceu a criação de um plano para estimular a descarbonização da economia até 2050, porém ainda falta regulamentação. Por isso, o que se tem hoje é um mercado voluntário, no qual as empresas se organizam de maneira espontânea para comprar créditos de carbono, sem qualquer obrigatoriedade.
“O setor cerâmico brasileiro é de alta produtividade e eficiência energética, logo tem uma das menores pegadas mundiais de carbono em revestimentos por metro quadrado, com 3 kg CO2 eq (dióxido de carbono equivalente) por metro quadrado, mas precisamos nos preparar para as metas de 2030 e neutralidade para 2050. Por isso, ouvimos as experiências europeias para iniciar o debate de como podemos redesenhar um plano de transição energética mais assertivo e condizente com a nossa realidade”, relata Neme.